Não falo sequer na exigência de uma atenção recíproca, de um pássaro voante sobre o chumbo rasteiro,
falo sobretudo de uma ansiedade latente, uma perseguição fantasmática, na ausência de rosto
os rumores cardíacos esses conheço-os de cor
primeiro os dedos, depois uma respiração assobiante, fria
se fica calor anseio pelo gelo
se nada fica tudo se diz
Ora, aqui neste deserto só ficam os sonhos, os versos, os pilares fundamentais de uma filosofia suspensa.
é como se o arrependimento fosse uma tatuagem, um dizer impossível, a minha luta
mas tudo é possível, mesmo que a redenção não seja para mim
recordo-me frequentemente dos pecados capitais, uma invenção das leis da física em forma de astrologia cutânea
agora por exemplo vem um hamburger a caminho, e enquanto isso escrevo, uma caminhada rente ao mar, rente rente à encosta, como se precisasse de muito vento no focinho. é verdade, daqui sente-se o sal das rochas, até mesmo de aquecedor bem ligado. as pantufas acolhem-me como uma boca de baleia, sonho com magma, deliro com essa incadescência viscosa.
Por tudo isto, tudo se tornou hardcore, os pelos dos dedos, as lanças dos dentes, as bolhas de veneno na carne queimada. no fim tudo se encaixa, um jogo assimétrico de cruzamentos inesperados. Um livro, uma história, uma pessoa, todos vindos aqui parar, um lamaçal de náufragos entrapilhados.